A perda de operacionalidade da Banda do Cidadão como meio de comunicação em rede móvel comercial.
Artigo dedicado ao Senhor Filipe, morador em Almada que visitou a secretaria da Liga CB, pedindo uma opinião sobre o CB. Evitou assim, problemas e dinheiro atirado pela janela.

Como todos sabemos, e não querendo ser repetitivo, com o aparecimento e aceitação quase obrigatória por parte de um público ávido das novas maravilhas da tecnologia, com uma natural tendência para o consumismo desenfreado, devido à massificação da publicidade (a maior parte dela, enganosa) que entra constantemente na casa de cada um, os actuais meios de telecomunicações ofuscaram e atiraram para o campo da quase total inutilidade, uma larga faixa de frequências onde se inclui o CB - Banda do Cidadão (tradução do termo Citizen’s Band oriundo dos USA).

Nos anos 60 e 70, antes da Banda do Cidadão ser entregue aos seus verdadeiros utilizadores, o Estado português utilizou-a como um negócio. Ou seja, alugava-a como meio de comunicação comercial, militar e policial. Um exemplo disso: em 1978, já com a Banda do Cidadão legalizada e o respectivo Decreto-lei já publicado no Diário da República, a P.S.P. de Almada continuava a transmitir no canal 26 (27.265 MHz). Já com um considerável número de utilizadores legalizados e não legalizados, moradores na cidade de Almada, escusado será dizer a balbúrdia em que se transformou aquele canal policial. Aconteceram algumas situações hilariantes, em que alguns dinossauros como eu, estiveram envolvidos.

Taxistas, pescadores, empresas de transportes, guardas nocturnos, seguranças, manobradores de maquinaria pesada, e outros ramos de actividade comercial e indústrial (Lisnave) que tivessem necessidade de comunicar com as suas estações móveis ou portáteis, dirigiam-se à ex-DSR (Direcção de Serviços Radioeléctricos), na Rua Conde Redondo em Lisboa, preenchiam a documentação necessária, pagavam a taxa anual e era-lhes atribuído um indicativo oficial (CUT ou CUV seguido que quatro algarismos) e uma frequência fixa - canal - dento da faixa de frequência da Banda do Cidadão.
Havia escuta efectiva e oficial de todo o tráfego de comunicações e quando os indicativos não eram utilizados, no inicio e fim dos câmbios, ou quando o tipo de conversa descambava para o ordinário, as coimas eram pesadas.
Nesses passados anos, os governantes da altura não reconheciam a faixa compreendida entre os 29.965 e os 27.405 MHz, como uma frequência de cariz popular e recreativa, como acontecia nos USA e em muitos países do mundo.

Antes de Abril de 1974, quem fosse “apanhado” a utilizar o CB, era logo conduzido à esquadra da polícia e por vezes havia uma transferência do detido para ser interrogado pela pide-dgs. Para os que não saibam, ou não se lembrem, pide quer dizer: policia internacional e de defesa do estado, ciada por Salazar em 1945. DGS - Direcção Geral de Segurança foi o nome dado por Marcelo Caetano quando, no ano de 1969, extinguiu a pide. Ou seja, o que mudou foi só o nome.
Muitos cebeístas, na altura piratas, foram “incomodados” devido ao gosto que tinham pelas radiocomunicações, pois para se ser radioamador antes de Abril de 1974, era muito difícil, complicado, esquisito e obrigado a pertencer a determinada organização da classe.

Portanto, o CB cumpriu a função como uma das frequências do espectro radioeléctrico português a ser utilizado e explorado, como meio de radiocomunicações comerciais.

Presentemente, no início do século XXI, uma firma com um escritório numa zona urbana tendo absoluta necessidade de comunicar com os seus funcionários no exterior, para troca de todo o tipo de informações, não vai utilizar o CB para cumprir tal função. É impensável nos tempos actuais. Porquê?
Vamos explicar, passando da teoria à realidade e com base em três argumentos.

1 - Custo elevado dos equipamentos e instalação da antena da estação fixa (base) muito trabalhosa e dispendiosa.

2 - Dificuldade de comunicação entre a estação base e as estações móveis devido ao seguinte:

a) Distância entre a estação base e as estações móveis, superior ao limite aconselhado.

b) A estação móvel estar numa posição geográfica muito baixa em relação à estação base. (zona de “sombra”)

c) Ruídos e interferências ocasionais que é uma das características desta frequência

d) Para evitar os ruídos de frequência, as comunicações podem ser estabelecidas no modo de FM, mas reduz em mais de 50% o raio de acção entre a estação fixa e a estação móvel.

e) Interferências e cortes de recepção causadas por outros utilizadores que, eventualmente e sem intenção de prejudicar, possam estar a comunicar num canal muito próximo do escolhido.

f) Interferências causadas por outros utilizadores com a intenção de prejudicar as comunicações.

g) Entrada, no canal que está a ser utilizado, de alguns utilizadores com insultos e palavras obscenas, com a intenção de ofender e desestabilizar.

3 - Eventuais interferências provocadas pela estação base nas televisões de alguns vizinhos, devido ao sinal da TV do vizinho, ser muito fraco por determinadas razões.
Apesar dessas interferências não serem da responsabilidade de quem tem uma estação CB de qualidade e dentro da lei, pode acontecer, o que resulta quase sempre em maus ambientes entre as pessoas.

Mas, por hipótese, essa firma comercial com escritório numa zona urbana, tendo necessidade de comunicar com três viaturas, vai mesmo adquirir uma pequena rede de radiocomunicações comerciais recorrendo à Banda do Cidadão, composta por uma estação fixa (base) e três estações móveis (viaturas da firma), não querendo utilizar nenhum dos meios actuais das tecnologias de telecomunicações.

= A =
COMPRA E INSTALAÇÃO DA ANTENA PARA A ESTAÇÃO FIXA (BASE)

1.1 O ESCRITÓRIO DA FIRMA FUNCIONA NO 1º ANDAR, onde ficará a estão base, de um prédio com 8 andares em condomínio, que ao abrigo do Decreto-Lei 151-A/20 de 20 de Julho, Capitulo IV, Artigo 20º, fica dependente da autorização dos restantes moradores do edifício, e "não dispensa quaisquer outros actos de licenciamento ou autorização previstos na lei, designadamente os da competência dos órgãos autárquicos.”

2.1 APÓS A AUTORIZAÇÃO DO CONDOMÍNIO e suposta autorização camarária para a instalação da antena da estação base, procede-se ao registo de utilizador e pagamento da respectiva taxa, nas instalações da ANACOM em Lisboa.
Se o pedido de utilizador for em nome de uma firma comercial com vários equipamentos CB, o mesmo registo abrange os funcionários utilizadores, que se fazem acompanhar de uma fotocópia do Certificado de Registo em nome da firma. Custo do Certificado de Registo: € 74,82

 

3.1 COMPRA DE UMA ANTENA para estação fixa (base) - Após a compra da antena e todos os acessórios necessários à sua montagem, há que contratar quem faça a respectiva montagem com certificado de segurança para que seja entregue ao administrador do condomínio, respeitando todas as normas de segurança e manutenção conforme o Decreto-Lei acima citado.

3.2 AS CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DA ANTENA têm que ter parâmetros aceitáveis para uma boa emissão, recepção, facilidade de instalação, durabilidade e resistência ao vento. Em nossa opinião, a antena ideal é a “BLACK PIRATE 5R”, em fibra de vidro muito resistente a rajadas de vento na ordem dos 120 Km/hora. A sua leveza e fácil montagem tornam-na como uma das melhores antenas CB em relação à qualidade/preço. A segunda escolha seria a “SIRIO 827”, também uma boa antena fabricada com uma resistente liga de alumínio, mas mais pesada e oferece maisresistência ao vento.

4.1 CONDIÇÕES DE INSTALAÇÃO DA ANTENA NO TELHADO. Se não houver telhado, mas sim uma placa, a mão-de-obra, materiais empregues na montagem da antena, condições de segurança e manutenção ficarão substancialmente bastante reduzidas.
Se for telhado, tudo se complica. A antena, em princípio, terá que sem instalada num ponto que ofereça um base de sustentação aceitável, e isso só se obtêm com o aperto, a uma chaminé, do tubo que suporta a antena.

5.1 INSTALAÇÃO DA ANTENA NO TELHADO E SEUS CUSTOS
5.2 MATERIAIS DE SUSTENTAÇÃO DA ANTENA
Tubo galvanizado com 6 metros de comprimento, reforçado de 2” (polegadas), mais ou menos 5 centímetros de diâmetro: € 49,00
Argolas (3) em ferro galvanizado para soldar ao tubo: € 1,00
Braçadeiras (2) para apertar o tubo à chaminé: € 2,50
Espias de cabos de aço normal : € 0,40 / metro. Gastando 20 metros, aproximadamente, custo total: € 8,00
Esticadores galvanizados (3): € 4,50
Pontos de apoio (3) para aperto dos cabos de aço que espiam o tubo: € 7,50
Serra-cabos (12): € 3,00
5.3 ANTENA ”BLACK PIRATE 5R”: € 119,00
5.4 CABO COAXIAL RG8U: € 1,00 / METRO. Gastando 30 metros: € 30,00
5.5 QUATRO FICHAS PL 259: € 4,00 Duas para os terminais do cabo coaxial que liga o transceptor à antena e as restantes para o chicote para o medidor de estacionárias.
5.6 FIO DE COBRE NÚ PARA LIGAR À TERRA: 0,34 € / METRO. Gastando 30 metros, custo total: € 10,20
5.7 MÃO-DE-OBRA ESTIMADA PARA DOIS HOMENS - 16 HORAS. Custo: € 200 com seguro temporário de acidentes de trabalho

5.6 CUSTO APROXIMADO DA ANTENA E SUA MONTAGEM: € 438,70
Nota: Neste preço não está incluída a aplicação de braçadeiras na empena do prédio para prender o cabo coaxial e o fio de terra.

LEGENDA
A
Antena
a-a
Argolas de aperto das espias de aço
b
Braçadeira de aperto do tubo à chaminé
C
Chaminé
E
Esticadores
e-a
Espias de aço
p-a
Ponto de apoio das espias de aço
T
Tubo galvanizado

= B =
COMPRA DA ESTAÇÃO FIXA (BASE)

6.1 EQUIPAMENTOS PARA ESTAÇÃO FIXA (BASE)
6.2 EMISSOR-RECEPTOR ao abrigo do Decreto-Lei 47/2000 de 24 de Março, marca “PRESIDENT GRANT”, AM, FM e SSB: € 263,00
6.3 FONTE DE ALIMENTAÇÃO 13,8 V, 10 A. marca “ALBRECHT”: € 69,00
6.4 MEDIDOR DE ESTACIONÁRIAS (SWR) até 100 W, marca “ALBRECHT”: € 50,00

6.5 CUSTO DA ESTAÇÃO FIXA: € 382,00

= C =
COMPRA E INSTALAÇÃO DAS ESTAÇÕES MÓVEIS

7.1 EQUIPAMENTOS PARA 3 ESTAÇÕES MÓVEIS
7.2 EMISSORES-RECEPTORES ao abrigo do Decreto-Lei 47/2000 de 24 de Março, marca “PRESIDENT GRANT”, AM, FM e SSB: € 263,00 x 3 = € 789,00
7.3 ANTENAS PARA OS MÓVEIS marca “SIRTEL” modelo “SANTIAGO 1200” reforçada (1.000W): € 66,00 x 3 = € 198,00
7.4 SUPORTES DE AÇO INOX PARA APERTO da antena no tejadilho ou no porta-bagagens das viatura: € 7,50 x 3 = € 22,50
7.5 INSTALAÇÃO e afinação dos equipamentos, 8 horas: € 75,00

7.6 CUSTO DAS TRÊS ESTAÇÕES MÓVEIS E SUA MONTAGEM: € 1.084,50

= D =
CUSTOS

CUSTO FINAL
8.1 Certificado de Registo: € 74,82
8.2 Antena com montagem: € 438,70
8.3 Estação fixa (base): € 382,00
8.4 Estações moveis (3) com montagem: € 1.084,50

8.5 CUSTO TOTAL: € 1.980,02

= E =
CONCLUSÃO

Nós, que tentamos defender, promover, divulgar e dignificar a Banda do Cidadão por todos os meios possíveis, não podemos utilizar a mentira nem a mascarada como meio da nossa acção e missão, persuadindo e empurrando as pessoas para situações ilusórias sobre um meio de comunicação, que comercialmente, e não só, já teve o seu tempo e o seu lugar.

Não entramos no jogo do logro, como infelizmente alguns tentam fazer, dizendo que há emergência rádio CB em Portugal, praticada por determinada Associação. Tudo isso não passa duma flácida e gordurenta mentira, para enganar meio dúzia de palermitas que também acreditam que o Pai Natal existe.
A emergência rádio CB existe, quando pontualmente, se organizam eventos para o efeito com a colaboração dos Bombeiros Voluntários.
Foi o caso da operação Páscoa, organizada pela Delegação de Trás-os-Montes da Liga para a Defesa da Banda do Cidadão em colaboração com os Bombeiros Voluntários Cruz Verde de Vila Real, quando um troço do IP4 ficou sob vigilância de uma pequena rede de radiocomunicações CB, composta por uma estação fixa coordenadora no alto da Serra do Marão em ligação com a central de telecomunicações dos Bombeiros e algumas estações móveis numa determinada zona do IP4.
Durante a Sexta-feira Santa e Sábado de Aleluia da Páscoa de 2004, houve emergência rádio CB efectiva em Vila Real de Trás-os-Montes

Actualmente, a Banda do Cidadão, ainda tem utilidade e continua actuante, mas como uma forma de comunicação-rádio alternativa quando os actuais meios, tecnologicamente altamente evoluídos, falham, como tem acontecido em algumas ocasiões.

Como passatempo e quem gosta de contactos à longa distância, consegue-se comunicar praticamente com todo o mundo, quando a propagação está propícia. O gozo que dá um contacto com o Brasil, norte da Europa, USA, ou com a cidade de Sydney, na Austrália, como aconteceu comigo o ano passado em Julho.
É bom não esquecer que a Banda do Cidadão está numa faixa de frequência compreendida entre os 26,965 e os 27,405 MHz, com um comprimento de onda de 11 metros, o que a remete, ainda, para a onda curta, cuja capacidade de reflexão nas camadas altas da ionosfera ainda é grande, especialmente no Verão.

O CB como comunicação alternativa aos que praticam Todo-o-Terreno, é um facto, pois a maior parte destas viaturas saem para o mercado equipadas com rádio CB.
Só que, em nossa opinião, o modelo de CB que equipa a viatura não é o mais indicado, o que reduz bastante o raio de acção das radiocomunicações carro a carro.
Sobre o assunto, estamos a preparar uma secção no nosso site dedicado ao CB no Todo-o-Terreno.

Esperamos que o Senhor Filipe, morador na cidade de Almada, bem como alguém com dúvidas sobre o assunto, ficassem agora a saber que a perda de operacionalidade da Banda do Cidadão como meio de comunicação em rede móvel comercial, é uma realidade.
A solução para o caso que acima relatámos, é sem dúvida o telemóvel. Simples, prático, económico e fiável.

Em nada beliscámos a imagem da Banda do Cidadão que, ainda hoje e em determinadas circunstâncias, tem demonstrado a sua utilidade e mais valia. O que não perdemos, foi a noção realidade e a clarividência.

Como disse Lavoisier, o grande químico francês, “Na natureza nada se perde e tudo se transforma”

Luís Forra
07-10-2004

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